Resenha de "O Sobrado da Rua Velha" pelo escritor Cláudio Quirino




Recorrer a temas paranormais em romances quase sempre é algo complicado, muito complicado, por natureza. Expresso dessa maneira, porque parece meio incomum ter ideias originais, mantê-las com firmeza e construir um bom suspense, que prende por tudo que se manifesta.

Em seu romance de estreia – O Sobrado da Rua Velha –, o autor Jeremias Soares demonstra uma primazia calculada para esboçar uma antiga temática: a exploração de ambientes sinistros e que exercem poder sobre a mente fragilizada das pessoas. Não é um tema recente, claro, mas que surpreende pela forma com que se inicia e entrega o seu fiel propósito. Com o primeiro contato com a obra, garanti a minha preocupação em estudá-la como realmente se deve, atentando para as características que, entrementes, constituem o método. E eis que tudo me causou uma ótima impressão, a começar pelo sobrado.

Este, absorvido por um mistério incansável, cria um clima tenebroso aos olhos dos leitores, que, com o passar dos capítulos, vai sendo apresentado com um pouco mais de elementos diferenciados. O sobrado parece espetacular da maneira como foi concebido pelo autor e, mais ainda, contrasta sobrenaturalmente com a sombria Rua Velha. 

Então, um fato duvidoso acontece. Em meio a uma teia indecifrável de segredos e marcas do passado, os personagens são apresentados. Cada um, em especial, converte os seus desejos mais íntimos em certas prioridades, que consegue nos convencer; são figuras aparentemente normais, que seguem as suas vidas e buscam priorizar sonhos, despreocupadas com os perigos reais que os cercam. O que distingue essas camadas são gélidas recordações e assombrações impiedosas. Assombrações que se instaura dentro de cada um deles, manifestando comportamentos surreais e mortais.

E seria exatamente desse ponto que tudo começa. O envolvimento satisfatório e cru dos personagens se desfigura, aos poucos, para dar lugar a uma tensão resoluta que se torna marcante pela sua forte originalidade. Jeremias conseguiu, de fato, criar cenas e situações intensamente inusitadas, que arrepiam o seu leitor. A relação familiar que, em cada capítulo novo, vai se modificando é um dos pontos positivos do romance e, junto com a linguagem simples – entremeada com o regionalismo gaúcho – satisfaz os olhos dos amantes do gênero. Existe preocupação, esmero nas palavras e boas doses de terror, que seguem uma linha lógica de raciocínio.

A ruptura que desencadeia no surpreendente final me chamou a atenção. Foi por uma espécie de cadeia de acontecimentos que Jeremias Soares ousou ainda mais. E novamente percebi a sua segurança, o seu conhecimento e o seu talento, que é inegável.

O Sobrado da Rua Velha é incrivelmente bem desenvolvido e estruturado. Senti falta de um pouco mais de descrição, em algumas situações, mas isso não minimizou a importância do romance. Está repleto de simbolismo oculto, mensagens aterrorizantes e de carga negativa. Afinal, seria essa a intenção.
Muitos sustos e entidades rondam as entrelinhas.
Ótimo, de verdade.

Cláudio Quirino é um escritor participante do gênero policial/paranormal. Com uma experiência comprovada como escritor de contos, participou de algumas coletâneas e de sites com conteúdos voltados para o seu gênero, Atualmente, está finalizando o primeiro romance-solo, que deverá ser lançado no primeiro semestre de 2013. E-mail para contato claudioquirino86@bol.com.br.